grupo de pessoas em diferentes idades conversando e rindo, representando a amizade ao longo da vida

Com o tempo, surgem novas formas de manter suas amizades em sintonia com as fases da vida

Quando estava nos meus 20 anos, tinha um grupo diverso de amigos: alguns da infância, outros da faculdade e vários do trabalho. À medida que avancei para os 30 e depois os 40, parte dessas amizades naturalmente se desfez. Isso aconteceu porque as pessoas mudaram de cidade, se casaram, tiveram filhos, trocaram de profissão ou simplesmente passaram a ter outros interesses e estilos de vida.

Ainda assim, várias amizades antigas permaneceram e até se fortaleceram, apesar dos caminhos diferentes que cada um seguiu. Claro, exigiu dedicação. Durante quase duas décadas como mãe, também construí novas conexões. Algumas duraram pouco, mas outras se tornaram fortes e essenciais.

Segundo estudos, essa trajetória é bastante comum. Pesquisas mostram que, após os 25 anos, a tendência é perdermos amigos até por volta dos 45. A partir daí, o número de amizades tende a se estabilizar.

Danielle Bayard Jackson, educadora especializada em amizade, explica que perder contato com alguns amigos e manter outros faz parte do ritmo da vida. Isso não significa que você falhou, nem que a amizade era falsa. Simplesmente, algumas pessoas combinam com quem somos em determinadas fases da vida e, com o tempo, novas conexões se formam a partir do lugar emocional em que estamos.

Como as amizades mudam com o passar das décadas

Durante a adolescência e juventude, é comum que as pessoas compartilhem fases parecidas e se conectem por meio de atividades em grupo, como escola ou esportes. Quando entramos nos 20 e poucos anos, os vínculos começam a depender mais do ambiente social em que estamos inseridos.

Kelley Kitley, assistente social clínica, explica que isso também ajuda a entender por que muitas amizades surgem no ambiente de trabalho, inclusive com pessoas mais velhas. Passamos boa parte do tempo com colegas de profissão, o que facilita a criação de laços.

Ela acrescenta que mudanças para grandes cidades costumam deixar as pessoas mais abertas a novos vínculos, enquanto quem permanece na mesma cidade pode manter um círculo mais limitado e estável.

Nos 30, a vida tende a ser mais cheia de compromissos: casamento, filhos, carreira. Nessa fase, a qualidade das amizades pode crescer, mas o tempo disponível para nutrir esses laços diminui bastante. Estudos apontam que adultos entre 30 e 40 anos estão entre os que menos têm tempo livre.

Danielle Bayard Jackson observa que, nesse momento, o foco geralmente deixa de ser formar novas amizades e passa a ser manter as que já existem. E está tudo bem se algumas amizades não resistirem às mudanças da vida. Kitley reforça que o afastamento não precisa vir acompanhado de mágoas. Podemos encarar o fim de uma amizade com leveza e gratidão pelo que foi vivido.

Na casa dos 40 anos, há uma mudança na forma como lidamos com os relacionamentos. Passamos a valorizar mais as amizades que realmente importam, mas também temos menos energia e tempo disponíveis por conta das demandas da vida adulta: filhos, trabalho, responsabilidades com os pais.

Além disso, é comum um certo resgate emocional do passado. A nostalgia nos leva a reconectar com pessoas de fases anteriores da vida, especialmente quando sentimos falta de vínculos mais profundos.

Quando chegamos aos 50, 60 anos e entramos na fase da aposentadoria, as amizades tendem a girar em torno do convívio no bairro, entre pais de amigos dos filhos ou em atividades comunitárias. Mas, assim como antes, algumas dessas conexões se desfazem à medida que as pessoas se mudam ou se desconectam da rotina.

Kitley explica que criar novas amizades nessa fase da vida pode ser mais difícil do que na juventude, onde escola e trabalho facilitavam a convivência. Por isso, recomenda buscar grupos com interesses comuns — como clubes de leitura, caminhadas em grupo ou atividades voluntárias. Essas iniciativas ajudam a manter o senso de pertencimento e reduzem a solidão.


5 formas de manter amizades mesmo com a correria da vida

Se você sente que uma amizade está se enfraquecendo ou tem dificuldade em manter o contato com pessoas que são importantes para você, aqui vão algumas estratégias práticas.

1. Foque nas pessoas que realmente importam

Se o tempo é curto, seja estratégico. Pense em quem são os amigos mais importantes para você e concentre sua energia nesses vínculos. Bayard Jackson conta que muitas pessoas extrovertidas sentem culpa por não conseguirem manter contato com todos, mas essa pressão pode ser exaustiva.

Ela reforça que, por mais técnico que pareça, criar um plano de cuidado com as amizades ajuda a trazer clareza e leveza ao seu cotidiano emocional.

2. Explicite suas intenções

Assim como em relacionamentos amorosos, vale a pena ser direto com seus amigos sobre a importância de manter o vínculo. Dizer que gostaria de se falar com mais frequência ou marcar encontros mais regulares pode ajudar a alinhar expectativas.

Essa iniciativa reduz mal-entendidos e mostra que você valoriza a amizade. Muitas vezes, o outro também sente o mesmo, mas evita demonstrar por medo de parecer “carente” ou exigente demais.

3. Pratique a empatia ativa

Mesmo que você e seus amigos estejam em fases diferentes, tente entender os desafios que eles enfrentam. Filhos, pais idosos, rotina sobrecarregada… tudo isso afeta a disponibilidade emocional e física para manter contato.

Você não precisa se identificar com os detalhes da situação, mas mostrar compreensão e apoio pode fortalecer muito o vínculo. Evite cair na ideia de que “não temos mais nada em comum” e procure lembrar do que os unia antes. Pergunte-se: como posso acolher essa nova fase do meu amigo sem me afastar?

4. Reinvente a forma de estar junto

Conforme a vida avança, os formatos de convivência mudam. Longos almoços ou encontros frequentes talvez não sejam mais possíveis. Mas isso não significa que a amizade precisa enfraquecer.

Encontros mensais mais curtos, chamadas de vídeo, ligações semanais ou até atividades compartilhadas como caminhar, fazer compras ou cozinhar juntos podem ser soluções. A ideia é incluir o amigo no seu cotidiano em vez de depender de eventos especiais.

Bayard Jackson sugere pensar a amizade como parte da vida real, e não como algo separado que precisa ser “encaixado” na agenda.

5. Conflito também faz parte

Muita gente acredita que amizades verdadeiras não enfrentam conflitos, mas isso não é verdade. Pesquisas mostram que amizades se fortalecem depois de discussões saudáveis, desde que baseadas em respeito e vontade de compreender o outro.

Se algo está incomodando, vale a pena conversar. Falar sobre sentimentos de frustração, invisibilidade ou desconexão pode ser desconfortável, mas é necessário. E se o relacionamento não resistir a isso, talvez não fosse tão sólido quanto parecia.

Bayard Jackson destaca que amizades duradouras são aquelas em que é possível expressar necessidades, expectativas e até discordar — sem medo do rompimento.

O que lembrar

Amizades mudam com o tempo, assim como nós. Com presença, empatia e uma dose de flexibilidade, é possível cultivar relações profundas e significativas em qualquer fase da vida.

Sobre o Autor

0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sair da versão mobile